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quarta-feira, 20 de março de 2013

um balanço necessário: 10 anos da invasão ao Iraque

O colapso da política de `combate ao terror`: O petróleo e os petrodólares, os movimentos nacionalistas árabes e o colapso do neoliberalismo

No dia 23 de março, a invasão ao Iraque completou dez anos. A contabilidade de mortos, segundo o Iraq Body Count, soma 174 mil pessoas, das quais mais de 110 mil eram civis, mas segundo outros cálculos deve ser várias vezes maior.

A guerra do Iraque, que junto com a do Afeganistão representam os mais longos conflitos bélicos da história dos EUA, trouxe como principais consequências, enormes despesas militares, que aprofundaram a crise capitalista mundial, recorde de baixas e o assassinato em massa de civis. A miséria no País e os atentados, que supostamente seria a razão da invasão, aumentaram sensivelmente em todo o mundo.

Os movimentos nacionalistas guerrilheiros proliferaram no Iraque e se movimentaram na direção de vários países da região, tais como a Síria e o Sahel (região ao sul do Saara) africano. O incêndio do Oriente Médio coloca em xeque um dos principais pilares da dominação imperialista, principalmente do imperialismo norte-americano, o controle do petróleo. O ascenso desses movimentos nacionalistas mostra que o nacionalismo hoje está mais forte do que nunca e é um dos fatores fundamentais da bancarrota dos mecanismos de controle da região. A movimentação das massas e a desestabilização da região em geral têm um significado muito além de quem irá tomar o poder num desses países. Apesar dessa questão ser importante, muito mais importante é o enfraquecimento dos países centrais, os países imperialistas, que são o coração da revolução proletária mundial.

O fracasso das tropas imperialistas no Iraque e no Afeganistão reflete a crise de conjunto da dominação do imperialismo mundial, uma vez que o regime capitalista não tem condições de se sustentar por meio do seu domínio militar, nem político e nem econômico. A derrota do imperialismo é uma vitória importante para os povos e os trabalhadores de todo o mundo e é parte fundamental da tendência revolucionária mundial em marcha; mostra que a potência que surgiu da Segunda Guerra Mundial agora nem sequer consegue dominar países muito pobres e atrasados.

As guerras do Iraque e do Afeganistão custaram até agora mais de US$ 3 trilhões ao imperialismo norte-americano e estão na base da aceleração do processo que levou ao colapso capitalista de 2007-2008.

No centro da invasão do Iraque: o petróleo

Depois da derrota no Vietnam e da crise capitalista de 1974, o imperialismo norte-americano foi cauteloso nas agressões militares diretas, tais como as que aconteceram em Granada, no Panamá e nas ex repúblicas da Iugoslávia. Em 2001, trás esses sucessos menores, os ultraconservadores que dominavam o governo George Bush Jr. sentiram-se suficientemente fortes para invadir o Iraque e o Afeganistão com o objetivo de fortalecer o controle do petróleo e do gás do Oriente Médio e da Ásia Central, e restabelecer o domínio das multinacionais imperialistas norte-americanas no Iraque, frente à francesa TotalFinaElf, à italiana ENI, à russa Loukoil e à chinesa China National Petroleum, favorecendo o complexo militar industrial, do qual se beneficiam as multinacionais de todos os setores, por meio do aumento do orçamento militar.
Os 112 bilhões de barris de reservas de petróleo iraquianas conhecidas, e outros 220 bilhões estimados, permitiriam dominar mais facilmente o mercado e manter o domínio do dólar. Por esse motivo, os grandes bancos e as principais multinacionais imperialistas dos setores de armamentos e petrolífero impuseram a invasão do Iraque. O primeiro escalão da administração Bush tinha fortíssimos vínculos com a indústria petrolífera e os bancos. O Goldman Sachs controlava diretamente o Departamento de Tesouro.

O significado da política de “combate ao terror”

A política de “combate ao terror” foi imposta pelo governo de George Bush Jr. após os ataques de 11 de setembro de 2001, na tentativa de conter a queda dos lucros dos capitalistas devido ao esgotamento das políticas neoliberais que se expressava no estouro da bolha da Internet, a queda do Índice Dow Jones em 824 pontos e a crise econômica e política em vários países em escala mundial.

Com o objetivo de aumentar os ataques contra as massas trabalhadoras e escalar as políticas neoliberais, a administração Bush aprovou a “Lei Patriota”, que atribuiu poderes especiais às autoridades para colocar escutas, apreender, deter, invadir residências e eventualmente expulsar suspeitos, entre outras flagrantes violações dos direitos garantidos pela Constituição dos EUA.

Sob a presidência de Allan Greenspan, a Reserva Federal promoveu o desmantelamento da regulamentação com o objetivo de favorecer a especulação financeira, que disparou em todos os setores da economia provocando enormes bolhas financeiras – bolsas, setor imobiliário, bolsas futuro de commodities. O petróleo passou a deter um valor crescente porque na base da especulação financeira estão as crescentes emissões de moeda podre viabilizadas em cima dos chamados petrodólares, as vendas de petróleo em dólares norte-americanos.

O objetivo da invasão ao Iraque foi permitir o controle direto do segundo maior potencial de produção de petróleo em escala mundial com o objetivo de impulsionar ainda mais a especulação financeira e promover a rapina dos recursos do País.

A farra financeira alcançou níveis apocalípticos. Logo após a invasão, Paul Bremer, o interventor encarregado pela política econômica no País, abriu as fronteiras às importações e declarou que as 200 maiores empresas seriam privatizadas, a começar pela empresa nacional de petróleo. As medidas incluíram a redução dos impostos pagos pelas grandes empresas, de 45% para 15%, as multinacionais puderam ser proprietárias de 100% dos negócios, a remessa de lucros poderia ser de 100% e ainda sem pagar impostos. As concessões tinham duração de 40 anos com a possibilidade de renovação. Essas medidas refletiam a política geral dos neoliberais nos próprios EUA, onde a terceirização dos serviços públicos avançou de maneira acelerada, assim como a redução dos impostos para as empresas e os especuladores. Em apenas dois anos, o Pentágono tinha duplicado as verbas repassadas a fornecedores privados, para US$ 270 bilhões anuais. As agências de espionagem receberam US$ 42 bilhões, o dobro de 1995. O recém criado Departamento de Segurança Nacional (Homeland Security) recebeu, entre 2001 e 2006, US$ 130 bilhões. Somente em 2003, o governo Bush Jr. repassou US$ 327 bilhões nos contratos com fornecedores da administração pública.

A privatização da empresa nacional de petróleo iraquiana foi adiada até 2007, mas os invasores se apropriaram dos US$ 20 bilhões que havia em caixa logo após a invasão.

Fartos recursos públicos foram destinados às multinacionais imperialistas para a reconstrução do Iraque. A privatização do esforço de guerra foi levado ao extremo. Estimativas apontaram que, em certos momentos, haviam dois contratistas para cada soldado norte-americano em solo; hoje, na véspera da retirada das tropas, a proporção é ainda maior.

A resistência iraquiana, um duro golpe para as políticas neoliberais

A resistência do povo iraquiano provocou o colapso das políticas do imperialismo norte-americano. A guerra do Iraque enfraqueceu enormemente o imperialismo norte-americano que, além de ter aumentado exponencialmente o endividamento público, foi derrotado militarmente. Ambos fatores o obrigaram inclusive a reformular a política militar.

Os guerrilheiros iraquianos continuam atuando com força no Iraque. Os ataques contra setores críticos da economia, principalmente a produção petrolífera, e os alvos militares são constantes. O imperialismo e a burguesia têm tentado direcionar a guerra civil para um confronto fraticida entre sunitas e xiitas com o objetivo de camuflar os interesses econômicos do imperialismo, da burguesia local pró-imperialista e do governo marionete. Mas a crise atingiu um grau tão alto que esse governo, sob a pressão da população revoltada com a pobreza e a espoliação do País, é um governo fraco, altamente dependente do imperialismo, mas que se vê obrigado a apoiar-se parcialmente em alguns setores do movimento nacionalista, fundamentalmente xiitas, e até no próprio regime dos aiatolás iranianos, que, além da propaganda e da política impulsionada pelos setores da direita imperialista, representa um fator de estabilidade perante o tamanho da crise.

O plano de retirada dos imperialistas norte-americanos do Iraque é parcial. Ficarão milhares de conselheiros militares, contratistas, cinco superbases militares autossuficientes e uma importante “ajuda” financeira e militar.
A resistência contra o imperialismo norte-americano e o governo marionete cresce a cada dia, aprofundando a crise no País e expandindo-a em toda a região.

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